Desde o final de Julho que o Partido Socialista (PS) revelou os seus primeiros cartazes para as eleições autárquicas, em Almada, que traz Inês de Medeiros como candidata à Presidência da Câmara Municipal.
Imagem retirada do perfil de Facebook de Inês de Medeiros
É difícil perceber o que se pretende exactamente com esta espécie de cartaz. Em alguns aspectos parece muito bem conseguido, noutros parece que se excede na desordem.
Exemplar de cartaz retirado da página de Facebook do PS Almada
Em primeiro lugar, há que saudar a diversidade. Os cartazes da candidatura "Almada Pode" não se resumem a uma única imagem reproduzida em massa e espalhada pelo concelho, como sucede, por exemplo, com os do Bloco de Esquerda, que exibem sempre a mesma imagem, independentemente do local onde se encontrem.
Os cartazes do PS apresentam uma série de reflexões e questões - as quais não são especificamente direccionadas ao local onde se encontram, como se verifica, por exemplo, com alguns do PSD -, questões abstractas de quem vive no concelho.
Também alternam estes cartazes entre mostrar apenas o rosto da candidata e seguir um modelo Bloco de Esquerda e PSD, que apresenta em grande plano, tanto o rosto da candidata à Câmara Municipal como o do cabeça-de-lista à Assembleia Municipal de Almada.
E, se a isto juntarmos algumas mensagens completamente vagas ou sem nexo - "Almada não pode ser a margem que todos preferem?" é um autêntico tiro no pé que reflecte uma visão típica de quem não tem afinidade com Almada e faz a sua vida tradicionalmente em Lisboa -, então a empatia com o cartaz, por mais sorridente que esteja a candidata, diminui ainda mais.
Mais um cartaz com uma pergunta/reflexão sem nexo
Neste contexto, importa fazer as seguintes observações:
Pontos fortes:
- A forte presença da identidade da candidata à Câmara Municipal. Percebe-se que Inês de Medeiros é a estrela da campanha, em quem se depositam todas as esperanças, e é-lhe dado todo o destaque possível. O seu rosto está em todo o lado e ocupa uma proporção considerável do cartaz. É arriscado, sobretudo se não for houver empatia com a candidata, mas compreende-se uma aposta desta natureza.
- Dois fundos. No de base, o branco ou o cinzento claro como cor de fundo não assenta mal num cartaz quando não é a cor predominante, servindo até para destacar outras cores, como é o caso do encarnado, escolhido para fazer de fundo principal para destacar a mensagem.
- Diversidade de mensagens, fazendo com que cada cartaz seja passível de suscitar curiosidade.
- Mensagens curtas e simples.
- Identificação dos meios de acesso ao perfil de Facebook e à página electrónica da campanha.
- Utilização de etiquetas digitais e escolha de uma etiqueta simples e inspiradora que, mesmo que escrita em letras minúsculas, permite a separação das duas palavras e, consequentemente, a sua compreensão (#almadapode).
- A identidade do partido está presente. Qualquer pessoa fica a perceber que para votar em Inês de Medeiros tem de votar no PS.
- Ousadia na forma como se recorre a um estilo moderno e jovem em parte do cartaz, nomeadamente, no fundo encarnado que sustenta a mensagem, que não se limita a assumir uma forma geométrica rígida, e tanto no texto inclinado como no tipo de letra da etiqueta digital, como que dando um ar de graffiti, típica arte urbana.
Pontos fracos:
- Sobrepor o fundo principal que sustenta a mensagem à foto com a imagem da candidata, remetendo-a para segundo plano.
- Não são apresentadas propostas. Os temas de reflexão na mensagem não podem ser vagos e acompanhados de um "Connosco pode. Almada pode" ou ficarem sem resposta sequer. Seria extremamente importante que o PS aproveitasse estas mensagens para seguir o exemplo do PSD e apresentar propostas. Só assim é possível a qualquer candidato demarcar-se da CDU. Caso contrário, trata-se apenas de um rosto ou de um conjunto de pessoas que não vêm acrescentar nada aos que já cá estão e dos quais já se sabe o que esperar.
- O não recurso a outros meios digitais além do Facebook e da página. Como se pretende explorar a etiqueta digital? No Facebook, onde se recorre a um formato de texto corrido e ainda se está bastante longe de estar implantada a cultura de conteúdos curtos e com palavras com o símbolo cardinal como prefixo? Há uma qualquer alergia ou incapacidade para aproveitar meios como o Twitter, o Instagram ou o WhatsApp.
Uma nota final para a página "Almada Pode". De momento, contém apenas uma ligação para a página de Facebook do PS Almada, mas a imagem de entrada funciona, parecendo o cartaz com o elenco de um filme. É uma forma arrojada e diferente de apresentar conteúdos. Mas, a meu ver, funciona plenamente. Saúda-se igualmente o domínio .pt no endereço do cartaz. Cá estaremos para ver o conteúdo que surgir. Faltam menos de 2 meses para as eleições. Não faria sentido já estar tudo pronto?
Imagem de entrada na página da candidatura "Almada Pode"